segunda-feira, 31 de maio de 2010

Blogagem Coletiva- Vida simples no Lar

O tema vida simples no lar imediatamente me remete a duas músicas... a primeira é do Vinícius de Moraes "era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada... ... ... Mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos numero 0". E a outra é a da Maria Bethania, aliás essa música é a cara do meu pai... "... Eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde pra plantar e pra colher, ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela para ver o sol nascer...".
Pensei num monte de coisas pra escrever... Mas, resolvi falar da casa onde passei a maior parte da minha vida. O Primeiro apartamento que morei, em Botafogo, eu lembro pouco... lembro do meu quarto que era rosa, a sala tinha um degrau no meio, o quarto dos meus pais, costumavamos brincar de Xuxa em cima da cama. Lembro-me pouco dessa casa. Pois passavamos o dia na escola, e o fim de semana na casa de Vargem Grande.
AH!!! Dessa sim me lembro bem. Lembro de como era gelada nessa época a casa, do cheiro gelado que ela tinha. lembro-me de quando ainda não tinha churrasqueira lá, faziamos semanalmente churrasco naquelas churrasqueiras pequenas, a casa era sempre cheia, amigos dos meus pais, família. Vem na minha mente o sol, a voz da minha vó materna alta e estridente, o tom verde da grama... Papai sonhou a vida toda com um cachorro e uma casa que tivesse uma vista bonita, e coincidencia ou não, o sol nascia ali perto da janela do quarto dele, tocava as árvores e fazia uma vista que ainda não vi mais bela.

Logo depois, mudamos pra lá. Foi uma boa reforma, passei 98% da minha vida nesta casa. Lembro-me que primeiro dividia o quarto com a Marcela, o quarto tinha 2 camas, uma cadeira vermelha na mesma estampa das colchas de nossas camas, e uma porta pro closet que mamãe e papai improvisaram. Lembro-me da vovó dormindo lá com os braços abertos pra dar a mão pra mim e pra Marcela. A piscina... azulzinha lá olhando para nós, e eu podia brincar na piscina todos os dias!!!

Crescemos, ai mudei de quarto, duas adolescentes no mesmo quarto não dava certo! Improvisaram o escritório pra virar meu quarto. Era verde, eu que escolhi verde (até hoje não sei porque fiz isso, verde não é, nem nunca foi a minha cor favorita), tinha um armário, uma mesa pra estudar, e uma estante horrível. Muitos bichos de pelúcia... Passei anos odiando aquela estante, até papai me dar de presente um quarto lindo, moderníssimo, feito com arquiteto, chiquerésimo!!!
Tenho tantas coisas que me lembro da casa... Os churrascos que faziamos, a vista maravilhosa que tinhamos, acordar com os passarinhos cantando na minha janela, uma época apareciam pombinhos brancos de manhã, as vezes aparecia mico, esquilo, até gambá!!!Fora os bichos que tinhamos, cachorros, gatos, peixes, passarinhos... Lembro me das frutas que tinhamos no nosso quintal: acerola, jabuticaba, coco, banana, limão, laranja, tangerina, jaca... A horta do meu pai, as roseiras do papai...

Lembro da mamãe fazendo cardápio da semana pra orientar a zezé o que seria o almoço e o jantar. Não sei porque ela fazia isso todos os domingos, raramente variava. Segunda almoçavamos nuggets com salada, quarta jantavamos bife a milanesa com sufle de milho (light, né?!), sexta tinha peixe com batata frita, e no final de semana era carne assada com farofa e salada de maionese, alternando a carne para lombinho.
E a bagunça que eu fazia? Meu pai lembra até hoje que eu deixava meus patins em qualquer lugar da casa, ele mandava eu tirar de onde estavam, e quando ia ver, estavam no meio do caminho de novo, mas em outro lugar. Meu pai era mais chato com a bagunça...Muitas vezes estavamos no portão pra sair de casa e ele via a porta do meu armário aberta, la ia lá eu voltar pra fecha-la!
Lembro do papai toda sexta feira sentado a sala, fazendo seu famoso lanchinho ( A Duda nunca presenciou isso, mas inexplicavelmente ela adora fazer um lanchinho do mesmo jeito que ele fazia), pegava a mesa do centro, colocava sua bandeja com queijo, salame, e outras coisas que ele inventava, e a cervejinha claro! Se sentassemos com ele no lanche, eramos obrigadas a ficar pegando cerveja pra ele o tempo todo!!! Lembro também do papai me acordando de propósito no fim de semana, cedo com a maldita música sertaneja no ultimo volume!! Tinha a oficina do meu pai, que parecia o professor pardal, inventava um monte de coisas pra consertar e fazer. Quando ele entrava de férias todos entravamos em pânico: que obra ele iria inventar???

Lembro que quando fazia besteira, sabia que ia levar bronca, eu ouvia o barulho do carro do papai chegando e fingia que estava dormindo.Recordo-me das festas... com o passar do tempo essas foram ficando menos frequentes, mas me lembro do papai brigando porque ninguém o ajudava... mas ele gostava de fazer tudo sozinho (se ele ler isso vai dizer que não, que ele fazia sozinho porque ninguem ajudava), ele queria mesmo companhia, que ficassemos ali olhando-o fazer as coisas, ou que fizessemos coisas simbólicas...


Essa casa era linda! Foi o lugar onde mais fui feliz na vida! Tudo na minha vida aconteceu ali. Sinto saudades demais, nós quatro fomos felizes ali. Não éramos ricos, nunca fomos. Tinhamos a vida bem simples, mas eramos incrivelmente felizes. Amavamos uns aos outros, a noite deitavamos na cama dos meus pais, papai implicava muito, mordia nossos bumbuns, e tinha uma brincadeira chata do miquito. E os almoços de fim de semana. Tinha que ser a 13:15, sem atrasos pra não infartar a mamãe!!! E quando estavamos de bom humor, riamos de nos acabar. Eu falava tanta bobeira... Um dia não segurei e fiz xixi ali mesmo de tão engraçado que foi. Outra vez papai resolveu derreter a calda do sorvete no microondas, virou um melado e ele não conseguia comer...

Seria a vida perfeita, mas do que qualquer coisa material, tinhamos valores, amor, alegria muita felicidade. Tinhamos o valor de família aflorado dentro de nós, nada mais importava, aquilo ali parecia ser eterno. A vida era simples, papai e mamãe mimavam na medida certa, mas tinhamos tudo que qualquer pessoa precisava pra ser feliz: MUITO AMOR E PAZ!!! Poderia ter passado o resto da vida ali, junto da minha família. Mas, todo adolescente quer mais... dei muito trabalho, só eu sei. Tivemos mal humor, reclamamos que era longe dos amigos a casa, reclamamos do transito pra chegar ali, sem nunca nos dar conta que o sonho podia acabar um dia.
A vida era perfeita. Entretando, as obras do destino vieram, eu casei, papai e mamãe fizeram ruir o casamento, sem importar a culpa nesse momento. A casa ficou triste, papai foi embora, e vendemos a casa como quem se livra de um grande elefante branco, sem derramar uma única lágrima. Por que os momentos felizes que passamos ali, acabaram... E ficarão pra sempre em nossas mentes como a saudade mais gostosa que alguém já sentiu na vida. Poderia ter durado mais? Poderia eu ter aproveitado mais? Não sei... Durou o tempo suficiente pra me marcar pro resto da vida, pra que eu nunca me esqueça de nada!
Não se precisa de muito pra ter um lar feliz... meus pais nunca seguiram nenhuma receita de bolo pra nos dar alegria ali. Não havia feng shui, mamãe não tinha bom gosto pra decoração, não tinhamos móveis mega caros, nem aparelhos eletronicos de última geração. Não tinhamos muitos empregados, nem luxo. Tinhamos uma família, cheia de defeitos, torta em muitos aspectos, mas a família que eu queria ter um milhão de vezes novamente! A família que tinha brigas, confusões e desentendimentos de montão, mas tinha o amor mais bonito que já senti na vida. Podem existir um milhão de famílias de comercial de margarina, mas a minha, pra mim, sempre será a melhor do mundo!!!


Minha casa hoje, não tem um lindo quintal, nem 2800m2 de terreno, nem tampouco quartos feitos em lojas caras, entretanto, tento que ela tenha a mesma paz e a mesma sintonia que encontrei durante minha infancia. Tento que a minha pequena conheça os mesmos valores que conheci: simples, porém, eternos!!!
A vida simples no lar, depende de nós, dos valores e sentimentos que aplicamos ali dentro. De como lidamos com as tempestades, pois o sol entrará pela janela somente se deixarmos!!

13 comentários:

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Paula,
O último período do seu post diz tudo, pois ressalta a responsabilidade que nós temos na condução da nossa vida.
beijo.

Lu Souza Brito disse...

Paula,
Que liiiiinnnnnndo seu post. Fiquei emocionada lendo o relato de sua infancia, das traquinagens, da diversão.
São esses valores que também quero passar aos meus filhos quando tiver. Por enquanto sou só eu, marido e cachorro, mas já somos muito felizes!

Mila Olive disse...

Que lembranças mais gostosas! É tão bom recordar os momentos únicos que a vida nos proporciona!
Adorei!
beijos

chica disse...

Paula, achei emocionante e bárbara tua postagem.Me fez lembras nossa casa com meus 4 filhos...Lindo,adorei te ler!beijos,tudo de bom!chica

Simone Scharamm disse...

Oi, querida,
Que lindo esse post! Memórias doces e gostosas de ler! Você está certa. Não importa a casa que se tenha. É mais importante que você passe para a sua pequena a tranquilidade, o amor e o respeito que toda criança precisa. Fazer um bolo junto com ela, plantar uma mini-hortinha, decorar álbuns de fotografias, contar historinhas...são coisas que ficarão na memória...um dia, ela estará contando pra alguém como foi doce a infância dela.
Desejo muitas felicidades nessa nova fase da sua vida!
Beijos!

Rosana Ibanez disse...

Poxa Paula! Fiquei emocionada com a história da sua vida!! Sabe, quando somos mais jovens não damos o devido valor ao que é realmente felicidade e só depois que tudo acaba é que sentimos o significado de cada momento vivido ao lado das pessoas que mais nos amam na vida, que são os nossos pais. Quando jovem (pelo menos fui assim), não via a hora de sair de casa, casar, morar só, qualquer coisa) e hoje vejo que nada é mais importante na vida da gente do que a família.
Como muitas coisas na vida, tudo acaba e jamais devemos nos sentir triste e sim recordar e saber que aqueles momentos foram únicos e maravilhosos.
Também procuro passar pros meus filhos essa importância da simplicidade e do afeto.

Lindo!! amei...
Beijos

Unknown disse...

Paula, maravilhoso teu post, conseguiste transmitir muito amor, saudades boas, e principalmente uma maneira de viver baseada em valores sólidos.
Parabéns!
Beijos :)

Edna disse...

Simplesmente perfeito e adorável teu post sobre vida simples, Paula. Deu uma vontade de chorar de saudades de meu papai, que infelizmente não está mais presente nesta vida. As canções mencionadas são divinas, suas lembranças são um tesouro que levarás para sempre em sua vida, e desta vida só levamos as coisas boas, que bom!
Parabéns
Apareça sempre!
Bjks!

Lúcia Soares disse...

Paula, passei de liso em comentar no seu lindo post! Pelo horário, eu já havia percorrido a lista até mais embaixo, então quando vim aqui, vc ainda não tinha postado.
Seu psot é lindo, muito bem escrito e o relato é emocionante.
Que pena que o casamento de seus pais tenha terminado!
Você é uma graça de pessoa!
Vou ler mais, para conhecer sua família.
Beijos!

Lúcia Soares disse...

(Voltei, Paula, pra lhe contar que li tudo, seu blog é novinho, foi rápido.
Sinto também pelo seu casamento desfeito.
Não deve ser fácil pra você, ficar sozinha com a Duda. Ela é linda!
Tenho uma filha que se separou no ano passado, depois de 3 anos de casamento e uma filhinha na época com 7 meses apenas!
Hoje Letícia tem 1 ano e 8 meses e é a rainha da minha casa. Elas moram comigo.
Fiquem com Deus e espera com calma.
O que é nosso, chega a nós.
Beijos!)

pensandoemfamilia disse...

Olá Paula
Foramm tantos os blogs sobre a vida simples, que só hoje estou aqui. Bela história de vida. Os valores repassados ficam dentro de nós mesmo que a família mude de estrutura. O importante são os laços que nos unem.
Bjs

Paula Mello disse...

Paulette, xará! Obrigada por sua visita e comentário no meu Quintal e adorei vir conhecer seu cantinho, seu texto ficou muito lindo, sensível. Acho que poucas pessoas terão na vida o que vc já teve, isso é bom, lindas memórias para agasalhar o coração.
Virei mais vezes e levo seu link para lá tb.
Uma semana iluminada!!

Macá disse...

Paula
Você passou pelo meu blog e só hoje estou conseguindo colocar em dia a minha leitura. Obrigada pelas palavras e parabéns pelo seu post.
Fiquei tão emocionada. Me revi em muitas coisas: Família unida, brincadeiras, risos, proteção, implicâncias, rebeldias, mas MUITO AMOR. É isso que importa. Nos sentirmos amados e poder passar esse amor para os nossos filhos.
beijos